Historia

Por Augusto Dias
Em 480 a.C. a Grécia encontrava-se numa das fases mais crítica da sua história, o Império Persa ameaçava conquistá-la e submeter toda a Helade. A derrota persa em Maratona tinha de ser vingada.
O mundo grego sempre foi além de genial, o mundo da traição, da intriga e da inveja, que se reflectia entre as cidades estados. Argo não quis participar na luta pelo ódio que tinha aos Espartanos, Tebas sentia um prazer maldoso em ver Atenas cair, os Tessálicos também traíram a causa comum e os próprios sacerdotes de Delfos vaticinavam um política derrotista. Só os Atenienses e os Espartanos aceitaram, num esforço comum salvar a Helade. O exército persa teria de atravessar o Helesponto percorrer a Trácia, a Macedónia e a Tessália para chegar à Grécia Central. Os Gregos que tinham necessidade de os retardar para darem tempo de manobra à sua frota, escolheram o estreito das Termópilas, situado entre a Tessália e a Fócida para a batalha. A passagem nesse tempo era tão estreita entre o mar e arriba que nela não podiam cruzar-se dois carros.
Foi aí que Leónidas, rei de Esparta tomou posição com cerca de 5.000 hoplitas, entre os quais 300 espartanos, escolhidos entre os melhores. O estreito propriamente dito foi ocupado pelos espartanos, enquanto o resto das suas forças ficavam na retaguarda.
Quando Xerxes, rei dos persas, chegou ao local enviou um mensageiro a Leónidas, intimando-o a entregar as armas. O espartano respondeu simplesmente: “Vem buscá-las”. Quando disseram aos espartanos que os Persas eram tão numerosos que podia tapar o Sol com as suas flechas, um dos soldados respondeu: “Tanto melhor, poderemos combater à sombra”. Xerxes esperou quatro dias, findos os quais deu inicio ao combate.
O Hoplita Espartano
Ao contrário de outros hoplitas, como por exemplo os Atenienses, os Espartanos seguiam um treino militar durante toda a sua vida, sendo assim verdadeiros soldados de ofício.
O Hoplita Espartano enverga todo o seu vestuário de combate. O capacete de bronze, de tipo corintio, é decorado de uma crista. A couraça de linho branco colocada sobre a tuníca substituiu a pesada couraça de bronze. É composta por várias camadas de tecidos colados uns aos outros. A parte inferior é recortada faixas para facilitar os movimentos e o abdómen é reforçado por placas metálicas. As caneleiras eram igualmente em bronze. O Hoplita Espartano é armado com uma lança e espada e o seu escudo gravado com o símbolo de Esparta é banhado a bronze na sua face externa. A capa termina este uniforme, o soldado está pronto para o combate.
A barba era frequente na Grécia antes da época Alexandre (336 a 323 antes de J.C.), e os cabelos longos eram o sinal distintivo do Espartano adulto.

A cidade-estado de Esparta, situada nas beiras do rio Eurotas, na região do Peloponeso, na Grécia, foi um dos fenômenos mais fascinantes da história em todos os tempos, tão fascinante que até seus vizinhos e rivais, os atenienses , dedicaram-lhe longos estudos sobre os usos, costumes e instituições lá vigentes. Aliás é graças a eles, aos filósofos, a historiadores e pedagogos atenienses: a Platão, a Xenofonte, a Aristóteles, a Isócrates e a Plutarco , que sabemos como os espartanos viveram.
O cenário histórico
“Todo o sistema da legislação dos lacedemônios visa uma parte das qualidades do homem - o valor militar, por este ser útil nas conquistas; consequentemente a força dos lacedemônios foi preservada enquanto eles tiveram em guerra , mas começou a declinar quando eles construíram um império, porque não sabiam como viver em paz, e não foram preparados para qualquer forma de atividade mais importante para eles do que a militar.”Aristóteles “Política”, 1271 b
Esparta, por força das circunstâncias da ocupação dória, de quem descendiam seus habitantes, petrificou-se no tempo. A sua estrutura social e seu rígido militarismo pouco mudaram ao longo dos cinco séculos de história. Era uma sociedade que, desde que adotou as leis de Licurgo, quase nada conheceu do que pode se chamar de evolução de um regime político. A razão disso foi que os espartanos, desde os começos quando chegaram à Lacedemônia como povo invasor, tiveram que enfrentar uma população hostil que os superava varias vezes em número e que rebelava-se contra eles a mínima hesitação. Para afirmar-se nela como conquistadores e dominá-la, tiveram que sacrificar-se integralmente àquele tipo de vida. Desta maneira tornaram-se fóbicos à mudanças e à novidades. Como já se disse no passado e foi lembrado mais recentemente por Arnold Toynbee, “os espartanos tornaram-se escravos dos seus escravos”.

Μολών Λαβέ (Venham Buscá-las!) Resposta de Leónidas ao Rei Persa, quando este exigiu que os Espartanos entregassem as armas, nas Termópilas.
Em 480 a.C. um exército Persa de aproximadamente 250 000 homens entrou na Grécia com o objectivo de a conquistar e de modo a que os Persas Aqueménidas aumentassem o seu território. A Grécia, dividida por séculos de conflitos internos entre as cidades estado, uniu esforços para enfrentar a ameaça externa.
Atenas estava ameaçada. O exército Persa avançava rapidamente. Não iria haver tempo para evacuar a cidade. Leónidas, Rei de Esparta, voluntariou-se para enfrentar os Persas no desfiladeiro das Termópilas, um estreito que se estendia por vários quilómetros e que traduzido do grego significa Portas de Fogo. Leónidas, com 300 Espartanos e 4000 aliados, impediria as forças Persas de avançar. Ao terceiro dia, ordenou aos seus aliados que retirassem, ficando apenas os seu fieis soldados a guardar o desfiladeiro. Aguentaria mais um dia. Nenhum dos soldados Espartanos, nem mesmo Leónidas, iria ver o nascer do quarto dia.
Leónidas tombou em combate, mas o seu sacrificio não foi em vão. Quando os Persas chegaram a Atenas, encontraram uma cidade vazia. Leónidas, Rei de Esparta, inimigo de Atenas, faria o último sacrificio pelo seu rival, e deixaria uma história de coragem para a Eternidade.

Conflito entre Atenas e Esparta, ocorrido entre 431 e 404 a.C.. Sua história foi detalhadamente registrada por Tucídides e Xenofonte. De acordo com Tucídides, a razão fundamental da guerra foi o crescimento do poder ateniense e o temor que o mesmo despertava entre os espartanos. A cidade de Corinto foi especialmente atuante, pressionando Esparta a fim de que esta declarasse guerra contra Atenas. Esparta invadiu a Ática com seus aliados em 431 a.C., mas Péricles persuadiu os atenienses a se deslocarem para trás das ‘longas muralhas’ que ligavam Atenas a seu porto, o Pireu, e a evitar uma batalha em terra com o superior exército espartano. Atenas confiava em sua frota de trirremes para invadir o Peloponeso e proteger seu império e suas rotas comerciais, mas foi gravemente surpreendida pela deflagração da peste, em 430 a.C., que matou cerca de um terço da população, inclusive Péricles. Apesar disso, a frota teve boa performance e foi estabelecida uma trégua de um ano, em 423 a.C.. A Paz de Nícias foi concluída em 421 a.C., mas Alcibíades liderou um movimento de oposição a Esparta no Peloponeso; suas esperanças esvaneceram-se com a vitória de Esparta em Mantinéia, em 418 a.C..
Ele foi também o principal defensor de uma expedição à Sicília (415-3 a.C.), que visava derrotar Siracusa e que resultou em completo desastre para Atenas. A guerra foi formalmente retomada em 413 a.C.; a fortificação de Decélia, na Ática, pelos espartanos, e revoltas generalizadas entre seus aliados pressionaram Atenas, que havia perdido grande parte de sua frota na Sicília e estava falida e atormentada por convulsões políticas. Apesar disso e graças, em grande parte, a Alcibíades, a sorte de Atenas ressurgiu, com vitórias navais em Cinosema (411 a.C.), e Cícico (410 a.C.), e com a reconquista de Bizâncio (408 a.C.). Houve mais uma vitória em Arginuse, em 406 a.C.. A partir de então, o apoio financeiro da Pérsia a Esparta e as habilidades estratégicas e táticas do espartano Lisandro alterou a balança. A vitória espartana em Egospótamos e seu controle do Helesponto subjugaram Atenas, pela fome, até a rendição, em abril de 404 a.C..

Gorgo foi uma rainha de Esparta. Filha de Kleomenes e esposa de Leónidas, que morreu na batalha das Termópilas. Ela é mais conhecida mulher de Esparta uma vez que é numerosas vezes citada por Heródoto. O seu papel em Histórias é único, sendo vista num papel activo na arena política espartana. Enquanto criança (oito ou nove anos), ela recomendou a seu pai não confiar em Aristágoras: “Pai, é melhor você partir, ou o estrangeiro irá corrompê-lo” (Heródoto). Kleomenes segue o seu conselho. Ela surge uma outra vez por Heródoto quando uma mensagem de Demaratos chega a Esparta: “Quando a mensagem chegou ao seu destino, ninguém podia advinhar o segredo até que, percebi eu, a filha de Cleomenes’, Gorgo, que era a esposa de Leónidas, adivinhou e disse aos outros que se raspassem a cera encontrariam algo escrito na madeira. Feito isso, a mensagem foi revelada e lida, e transmitida mais tarde aos outros gregos.”
Plutarco incluiu-a também na sua seção de provérbios de mulheres espartanas. Aqui ficam alguns: “Quando questionado por uma mulher da Ática porque eram as mulheres espartanas as únicas que podiam governar os homens, respondeu: porque nós somos também as únicas que fazemos nascer homens.” “Na partida do seu marido Leónidas para as Termópilas, enquanto o incitava a se mostrar digno de Esparta, perguntou o que devia fazer. Leónidas respondeu: casa
com um homem bom e traz ao mundo crianças sãs.”
O ideal do guerreiro homérico deveria ser adaptado para a vida das cidades. No caso de Esparta, o indivíduo desaparece diante do ideal colectivo. Em Esparta, não se trata de formar o herói, mas sim uma cidade de heróis.

Henri-Irénée Marrou fornece-nos uma pista para esta reviravolta: segundo ele, trata-se de uma revolução ética causada por uma revolução técnica, na verdade, uma mudança radical na técnica de guerra. No contexto da guerra entre as cidades, o guerreiro de modelo homérico, que vai ao campo de batalha no seu carro de guerra e escolhe contra quem combater, é substituído pela formação da falange de hoplitas, um batalhão de soldados de infantaria pesadamente armado, com capacete, escudo, caneleiras, uma lança longa e uma espada curta. Essa falange que se move e combate unida, obedece ao comando central dos seus oficiais e generais e entende que a vitória na batalha e, em última instância, a segurança individual de cada um dos seus membros depende da solidariedade do companheiro que está imediatamente ao lado. Assim, o escudo do guerreiro é deslocado para a esquerda sempre que ele sente que o seu companheiro está em perigo.
A força da falange reside na resistência que o indivíduo exerce contra o seu próprio medo. Bastará um soldado ceder ao medo e iniciar a fuga, e o pânico estará instalado e toda a falange se romperá.

Acredita-se, na verdade, que o código licúrgico, tanto no campo político como no campo educacional, resultou de uma gradativa adaptação dos espartanos às circunstâncias crescentemente adversas. Quanto maior era a resistência que se lhes deparava na região onde viviam, na Lacedemônia, conhecida pelas suas sucessivas rebeliões e amotinamentos, mais os espartanos enrijeciam-se, mais militarizada se tornava a maneira deles viverem. Enquanto as demais polis gregas passavam por várias e diversificadas experiências institucionais e por diverso regimes políticos, tais como a oligarquia, a tirania e a democracia, Esparta aferrou-se num sistema de castas militarizadas e disciplinadas, dominado superiormente pelos espartiatas, a quem vedavam qualquer atividade que não fosse exclusivamente as lides castrenses, tendo os periecos como uma classe colaboradora, ajudando-os na ocupação ou fazendo o papel de intermediários entre eles e os servos, e , no escalão bem inferior, os hilotas , os escravos da comunidade. Platão, num certo momento, definiu-a como uma timocracia, isto é, a governação pela coragem.

Esparta localizava-se na península do Peloponeso, numa região que tinha terras apropriadas para o cultivo da vinha e da oliveira. Nunca teve uma área urbana importante. Era uma cidade de carácter militarista e oligárquico.
O governo de Esparta tinha como um de seus principais objectivos fazer de seus cidadãos modelos de soldados, bem treinados fisicamente, corajosos e obedientes às leis e às autoridades.

Nenhum povo praticou a disciplina militar como os espartanos, cujos soldados aprendiam, desde tenra idade, a superar a dor, a comiseração do próprio eu, o medo e o sentimento da morte. Eles foram protagonistas do grandioso momento histórico da humanidade: o memorável episódio do Desfiladeiro das Termópilas, ocasião em que morreram o Rei Leónidas e todos os seus trezentos melhores guerreiros, na defesa de Esparta e do restante da Península Helénica, aquando da invasão persa.Os espartanos, por meio de ferrenha disciplina, a célebre “disciplina espartana”, baseada na rígida legislação e inspirada nas divindades gregas, dedicavam-se integralmente a um Estado militarizado.
Esparta ou Lacedemónia, situada na Península do Peloponeso, era a capital da Lacónia; daí a origem do termo “lacónico” - breve, conciso, estilo espartano, sem o desperdício. Esparta criou e desenvolveu, durante aproximadamente três séculos, um sistema de organização militar ímpar.